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LÉO PAJEÚ LÉO BARGOM LEONIRES
Poesias e Contos, Sentimentos e Versos, Sonhos e Visões de um Premonitor.
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Textos
A Casa Grande


No caminho da escola havia uma casa que todos conheciam como “A Casa Grande”...
Era uma casa diferente, tinha quatro fachadas iguais, como se fossem entradas e saídas, mas só duas fachadas realmente tinham portas para entrar e sair.
A casa tinha o formato de uma cruz, janelas e portas grandes e vidros embaçados e alguns rachados, como se fosse mal cuidada. Ali morava apenas um casal de velhinhos que estavam sempre andando de um lado para o outro, a velhinha sempre estava cuidando do jardim, regando um pé de flor (rosa vermelha) e outro de laranjeira e o velhinho sempre cuidando de algumas galinhas, patos, galinhas de angola e um peru solitário que sempre que passávamos perecia o cachorro da casa, fazia barulho e abria as asas.
O casal de velhinhos nos olhava de forma diferente, mas o olhar para Lucy, minha irmã de cinco anos, era amigável e com sorrisos...
E Lucy retribuía.
O casal tinha um filho e uma filha que não moravam com eles, já estavam casados e moravam em cidades diferentes e quase não os visitavam, era raro quando aparecia um ou outro, geralmente no final de ano ou em período de festas juninas.
Lembro-me que tiramos um período de férias escolar, não sei quanto tempo, mas demorou e quando passamos em frente à "Casa Grande” ela já não era a mesma.
A casa parecia sombria, sem vida, as plantas morrendo e secas, não vimos o peru barulhento e as galinhas, tudo estava calmo, seguindo o silêncio e as sombras frias que a casa fazia, apenas o pé de rosa vermelha e o de laranjeira estavam verdes como se fossem regados todos os dias.
Na volta da escola, bem de tardezinha, a casa aparentava mais sombria e assustadora, mas sabíamos que era o único caminho e tínhamos que passar.
Quando estávamos de frente com a casa ela parecia maior que o normal, como se crescesse, parecia ter vida, a noite parecia chegar mais rápido e as sombras em sua volta ficavam cada vez mais negras.

Lucy ficou um pouco para trás, talvez pela pressa causada pelo medo que apareceu de repente, apressamos o passo e a esquecemos, quando demos conta e olhamos para trás, Lucy acenava o braço e com um sorriso falava com alguém que não conseguíamos ver, na verdade não havia ninguém na frente da casa.
Nesse momento eu, meu irmão e o colega voltamos rápido, pegamos na mão de Lucy e saímos correndo feito doidos para casa com o coração batendo como se o espaço no peito fosse pouco para acomodá-lo.

Meu colega Juarez se despediu e partiu correndo, ele morava mais longe que nós, minha mãe percebeu alguma coisa e começou a nos perguntar o que tinha acontecido, ficamos por um momento calados e Lucy estava como se nada estivesse acontecido.
Com a insistência de minha mãe tivemos que comentar o ocorrido, esta apenas nos informou que o casal de velhinhos tinha morrido, o velhinho morreu numa semana e a velhinha logo em seguida, então a casa estava abandonada há vários dias, os filhos só vieram para o enterro e deixaram a casa só. Esta informação nos preocupou mais ainda, e ficamos a pensar um olhando para outro:
"Com quem Lucy falou? Para quem ela acenou? Se não havia ninguém..."
Combinamos de falar com o nosso colega o que nossa mãe contou.
No caminho para a escola começamos a contar para Juarez que os velhinhos tinham morrido, durante nossa conversa Lucy intercedeu e falou:
"Mentira de vocês, eles estão lá cuidando da casa. Eu falei com eles ontem"...
O medo tomou conta de nós, não sabíamos o que dizer!
Passar na frente daquela casa à tarde já fazia medo...
E na volta, como seria?...
Já meio escuro, com o canto de agouro dos pássaros noturnos.
Para atender uma encomenda de minha mãe tivemos que nos atrasar.
A noite vinha e parecia mais escura, a lua não tinha surgido, as estrelas pareciam mais distantes, além do canto dos pássaros noturnos...
O medo começou a tomar conta de nós. Lucy parecia indiferente, mas como era o único caminho, tínhamos que ir.
Quando estavamos diante da cerca que separa “A Casa Grande” da estrada sentimos um frio percorrer a espinha chegando até a ponta dos dedos, a escuridão era intensa, a casa era sombria...
De repente Lucy grita: "Tem alguém lá!"
sai correndo...
Quando percebemos, Lucy estava na porta da casa tentando entrar.
Havia uma pequena luz dentro da casa, como se fosse a luz de um candeeiro, esta luz começa a percorrer as dependências da casa como se alguém realmente a estivesse conduzindo.
Mesmo morrendo de medo fomos buscar Lucy, era nossa obrigação e responsabilidade.
Ao entrar na casa não vimos Lucy e a luz tinha sumido, de um momento para outro a luz da lua começou a entrar pelas janelas de vidros embaçados como também os agouros dos pássaros noturnos... Ouvimos uma voz e fomos em direção dela, quando chegamos parecia uma sala de jantar, Lucy estava sentada na mesa como se estivesse para ser servida, aguardando ansiosa, olhando o prato posto e com talheres na mão, chamei por Lucy e esta com tranqüilidade falou:
"Vocês também estão convidados para o jantar, a vovó já vem com a comida"...
De repente a porta da cozinha começou a se abrir, com a reação do medo pegamos Lucy e saímos correndo da casa o mais rápido possível, não olhamos para trás e corremos tanto que sentíamos os calcanhares tocando nossas cabeças.
Desde então começaram muitas histórias sobre a “A Casa Grande”, luzes que apareciam dentro da casa, à galinha cantando e os pintinhos piando, o barulho do peru, as portas que se abrem e se fecham e muitos andantes que diziam ter feito um farto jantar servido por uma velhinha bondosa e um senhor de olhar frio.
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 27/07/2010
Alterado em 23/07/2013
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