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MINHA HISTÓRA
A todos que me conhece
E aqueles que vão me conhecer
Vô contá minha históra
Prá vê se ocê num isquece
Antis qui poça morrê.
Nasci no sertão onde a chuva é mistéro,
trabaiei muito cedo prá ajudá no sustento,
Inda criança paricia home séro
Na costa dum jumento.
Saia todo dia prá cidade no só ardente e na chuva
Prá vendê leite de cabra e quejo quáio,
Prá budega, padre e viúva.
Mai o dia que o jumento impacava
Ficava tão imove que nem o chucaio palangava,
Todo dia era a merma estrada e sina
Vendia de tudo um pôco dependendo da capina
As veis era pitomba outra veis era imbu
Também cana caiana, cajá, manga, goiaba e caju.
Todo dia na minha labuta
Passava im frente da iscola
E jurava de virá dotô,
Memo pobre num pidia ismola
Nem vivia de favô.
Mãe e pai penava prá botar comê
Jirimum cum leite era sustento
E assim dava prá vivê
Com muita reza e alento
O trabaio era pôco, a seca era medonha
Restava pôco feijão e o bucho si controcia
Como si controce a cobra peçonha
Na terra quente do meio dia.
A vida era difici qui chegava a asustá
Restava a Padim Ciço e Deus do céu súpricá
Fui crescendo sem istudá e sem sabência
Cada vei mai a incerteza e farta de ciênça
Do sonho de me formá.
Paricia qui tudo ia acabá
Ia morrê sem filicidadi e amô
Mai o disispero por fim chegô
Mãe falô cum o diretô prá arrumá vaga
O brio de meus óios brotô
Agradici minino Jesus de Praga
Por tão grande favô.
Tirei sorte grande prá uma nova jornada
E um dia virá senhô.
Num isqueço a primera lição
A prefessora numa mão a parmatóra
E na outra um punhado de mio,
Não pudia oiar de lado nem falá com irmão
Contá lorota ou históra
Ou então soitá quarquer pio,
Conhecendo bem o sertão
Aquilo num paricia iscola
De se matriculá um fio.
Mai prá virá dotô váli a pena
Bedecer Prefessora respondendo a lição
Fazendo conta e disvendando pobrema
Sem recuar na missão.
Quiria ser letrado prá num sê martratado,
Poi o qui se via no sertão era sufrimento
Sertanejo em currá e cercado
Como si fossi boi, cabra e jumento.
A istrada foi longa e sufrida
Mai cunsigui virá dotô,
Nunca isquici a dô e a firida
Qui devorou meu amô.
Hoje vivo correndo como se fosse robô
Não tenho sossego, amor e paciência
E a vida parece sem cor,
Estou no curral da ciência
Disfarçando com morfina
Toda minha dor.
Autor: Leon Gomez, poesia feita em 29 de julho de 2000
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 05/08/2010
Alterado em 03/06/2011
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