A Hora do Lobisomem
A escuridão já era dominante, apenas a lua cheia emitia seus raios de prata quando seu Luiz começou a fechar portas e janelas de sua pequena casa reforçando com travas transversais de madeira de lei, ouvia-se o barulho de cada janela ou porta que era fechada e conferida, parecia que o medo rondava ou seu Luiz se preparava para algo desconhecido. A noite se aprofundava e tudo ficava silencioso como se nada estivesse fora do normal. Ao se aproximar da meia-noite os cachorros começaram a rosnar, uivar e andar em volta da casa como se estivesse com medo, uns arranhava a porta e outro grunhia como se o medo o dominasse.
Seu Luiz procurou o canto mais seguro da casa, acomodou a mulher e seus dez filhos, colocou sua espingarda a seu lado, conferiu se sua faca banhada de prata estava na bainha e sentou em um tamborete com as costas na parede. De longe já se ouvia o latido dos cachorros da vizinhança, cada minuto que passava os latidos ficava mais próximo, a sensação era como se viesse uma tempestade com ventos fortes numa noite negra.
Os cachorros estavam cada vez mais inquietos e cada vez se aproximava os outros cães em perseguição de algo desconhecido, ouviam-se latidos de diversas formas como se todos os cachorros de todas as raças estivessem nesta perseguição infindável.
Seu Luiz começou a observar por um pequeno buraco que cabia o cano de sua espingarda toda movimentação nos pequenos feixes de luz da lua, já se preparando para o pior... Os cães rosnando e preparados para acompanhar os outros na perseguição já estavam na porteira que ficava na beira da estrada enquanto seu Luiz ajeitava sua espingarda meio sem jeito como se fosse caçador de primeira viaje, mas na verdade era o medo que tomava conta de seu corpo que não parava de tremer.
Agora os latidos estavam perto da porteira, pelos feixes de luz dava para ver que a bagaceira era grande, a poeira subia e os cachorros corriam de um lado para outro como se estivessem pegando ou mordendo algo, em meio aquela briga todos latiam, todos mordiam e nada morria nada sangrava.
Seu Luiz não conseguia ver nada em meio aquele fuzuê, quando algo começou a arranhar sua porta, começando a arrancar pedaços...
Cada arranhada tirava um pedaço e a mordida era tão forte que mesmo a porta sendo de madeira de lei parecia papelão...
Seu Luiz preparou a espingarda e apontou para a boca de dentes grandes que mordia sua porta e disparou...
O tiro preparado com chumbo grosso o ensurdeceu e a fumaça da pólvora embaçou seus olhos, seu Luiz nada via e o medo lhe rondou dominado seu corpo que ficou paralisado por uns instantes até que se lembrou da faca banhada de prata em sua cintura preparada para algo que desconhecia, mas ouvia falar em estória passada de geração para geração.
Em um momento de desespero e medo seu Luiz empunhou a faca com firmeza e partiu para o ataque, deu a primeira facada que chegou a sair faísca, quando deu a segunda facada ouviu um grito ensurdecedor e um esturro de uma fera ferida em fuga ou cercado, sem saída, quase abatida...
Neste momento o fuzuê começou e ficou maior que o inicio, era cachorro por todos os lados, grito, grunhido, urros, uivos e latidos, começando corrida de novo rumo à estrada e todos os cachorros saíram em perseguição, pelos pequenos feixes de luz da lua dava para ver a poeira que se formava atrás de algo que todos comentavam na região como “A Hora do Lobisomem”...
Os latidos foram diminuindo a cada minuto em razão da distância que o ser desconhecido era perseguido pelos cachorros, seu Luiz conferiu se sua família estava bem e fez o sinal da cruz como se agradecesse a intervenção divina em sua luta na defesa de sua família contra algo que ouvia falar, mas nunca tinha visto de tão perto.
Aquele dia ficou como exemplo que seu Luiz passou a todos que acreditava no homem que se transformava em fera, sempre repetindo você que tem fé e coragem saberá à hora de fechar as portas e reforçar as janelas por que o medo ronda sua casa no dia de lua cheia e o lobisomem podem aparecer e atormentar sua família.
Autor: Leon Gomez