Quando ainda menino ouvia muitas histórias, era uma diversidade de contadores, cada um queria em suas misteriosas versões dar veracidade a sua narrativa e prender o ouvinte atento. Tinha uma que me prendia e me deixava encucado, o velho sempre sorrindo narrava sua história que convencia qualquer um.
Meu filho um dia deu uma enchente aqui no sertão que ficou para a história, quero dizer quase, por que poucos sobraram para conferir tal fato. Um dia pela tardezinha as nuvens começaram a ficar pretas lá encima da serra, elas agarraram a serra e começaram a engoli-la e tudo ficou escuro, os raios eram reluzentes e intermitentes, parecia que estavam esculpindo toda aquela grande serra com tantos raios que caiam lá.
Aqui onde eu estava não caiu um pingo d’água, fazia sol e fiquei só observando aquele diluvio na montanha. Meu vizinho o velho Tonho saiu de casa como de costume e começou a alimentar seus animais, jogando milhos para as galinhas, patos e guinés.
Foi dentro de casa de novo e pegou um tamborete, veio trazendo em uma mão uma penca de banana e uma sacola de milho e na outro o tamborete, chegou ao meio do terreiro e sentou, colocou a penca de banana e milho no colo e começou a comer as bananas, uma a uma, jogando as cascas para os porcos que lhe cercava, olhava de vez em quando para a serra para ver se a chuva não vinha em sua direção, voltava a ficar tranquilo e comia mais uma banana e jogava a casca para os porcos, com a outra mão jogava um punhado de milho para as galinhas em sua volta, juntas com os porcos, todos despreocupados.
Fui para dentro de casa tentando esquecer aquela cena na serra, seu Tonho ficou lá curtindo uma tarde quente e ensolarada, parecia que a chuva na serra não o incomodaria. Já dentro de casa escutei um estrondo, parecia que o mundo estava caindo, fiquei preocupado e fui até a janela para ver o que aconteceu. Fiquei de imediato com a boca aberta quando vi descendo pelas encostas da serra um tufão de água, vinha carregando tudo que tinha pela frente, cada vez que chegava perto parecia que crescia mais. Olhei para seu Tonho e este estava tranquilo, pois o coitado era quase surdo, então não escutou o barulho que eu tinha escutado, fiquei preocupado e comecei a gritar bem alto para seu Tonho, mas ele não escutava, fiquei apreensivo, mas nada podia fazer, não dava tempo de tirar seu Tonho do terreiro, o tufão d’agua vinha cada vez maior, veio vindo trazendo tudo, arrastando tudo, devastando tudo.
Fechei a janela, não queria ver aquela desgraça toda, mas não podia deixar de ver o que podia acontecer com seu Tonho. Abri novamente a janela e vi com estes olhos que a terra há de comer um dia, uma coisa inacreditável, junto com a enchente vinha uma enorme cobra, a bicha era grande, vinha arrastada pela correnteza, se contorcendo junto com todos os destroços trazido pela a grande enchente. A enchente chegou ao terreiro de se Tonho e com ela a gigante cobra, antes que seu Tonho sentisse a agua molhar seus pés a cobra veio e o engoliu junto com seus porcos e galinhas, fiquei estarrecido, nada podia fazer com uma cobra daquele tamanho.
Após algum tempo a enchente baixou, então fui buscar ajuda para tentar salvar seu Tonho. Cheguei à cidade e contei a história, ninguém acreditou, eu insisti até que chegou outra pessoa e me ajudou a fazer com que acreditassem na história. Todos convencidos só tinha uma saída chamar o exercito para tentar matar uma cobra daquele tamanho, isto levou horas, dias semanas até matarem a cobra gigante. Depois de morta só faltava abri-la para tirar o corpo de seu Tonho para fazer um enterro descente, foi feito um enorme porta em sua barriga e quando entraram a surpresa foi muito grande, seu Tonho continuava lá sentado no tamborete, comendo banana, jogando as cascas para os porcos, jogando de vez em quando um punhado de milho para as galinhas, tranquilo, parecia que nada tinha acontecido, diante de tamanho mistério foi perguntado ao seu Tonho:
- Seu Tonho o que o senhor está fazendo ai! – Disse o comandante do exercito.
- Estou alimentando meus animais, por quê? – Disse seu Tonho tranquilo, sem qualquer inquietação.
- O senhor não passou fome! – Disse o coronel.
- Não? Sempre passava um cacho de banana, um coco, Uma melancia e eu só tinha que estender a mão para pegar – Disse seu Tonho.
- Mas o Senhor já está ai há quase três semanas, não percebeu nada de errado – Disse o Coronel intrigado.
- Não? Não percebi nada, estava cercado pelos meus animais, estava tudo bem! – Disse seu Tonho sem qualquer constrangimento.
Tiraram seu Tonho de dentro da cobra para mostrar onde ele estava. Seu Tonho ficou supresso e falou ansioso:
- Bem que eu vi que tinha alguma coisa estranha, não apareceu cobrador em minha porta, ninguém veio pedir coisas emprestadas, não encontrei meu velho rádio para escutar a voz do Brasil e rir das notícias que tudo está bem, sem inflação, sem crime, roubo, morte, crianças com fome, sem aumento de IPTU, IPVA, IR, Dólar caindo pelas beiradas e discurso de políticos honestos.
- O Senhor não percebeu nada! – Falou o Coronel.
- Percebi que vocês tiraram meu sossego, estava tão bem ali dentro, parecia um paraíso.
- Pois é Senhor Tonho esta cobra gigante assustou todo mundo e os políticos da região já estavam preocupados com o que ela podia fazer se invadisse a câmera dos deputados, vereadores, a prefeitura, até o governador do estado ficou preocupado – Disse o Coronel tentando demostrar à devastação que a cobra causou.
- Então por que o Senhor matou a bichinha Coronel! – Disse Seu Tonho.
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 11/03/2011