O BEATO TIAGO, FILHO DE ZÉ BEDEU
Era sempre de tardezinha que os viajantes chegavam a grande braúna, parecia que era combinado, mas não era. A distância da cidade e da próxima fazenda deixava a fazenda do meio e a grande braúna no lugar ideal para um grande descanso ou uma noite para dormir, descasar e seguir no dia seguinte para suas missões e destinos. Era como se a grande braúna fosse o fim de uma história e o começo de outra.
As duas pontas da estrada terminava em curvas, o lado direito da estrada a curva era para a esquerda e o lado esquerdo a curva era para a direita. A curva do lado esquerdo da estrada havia uma baixada que sempre que era anunciada a chegada de algum viajante seu corpo demorava a aparecer por inteiro muitas vezes causando medo os viajantes dependendo do dia e da hora que alguém aparecesse.
Neste inicio de noite não foi diferente, a lua cheia era esperada com anseio e o dia de sexta feira não era muito bom para se passar a noite debaixo de uma grande árvore que sua sombra mesmo com a luz da lua ficava em uma densa penumbra por causa de se tamanho.
Nesta noite havia doze viajantes, apesar da quantidade todos procuraram ficar o mais junto possível, como se temesse alguma coisa sobrenatural.
Pedro que tinha o ouvido mais aguçado escutou uma cantoria ao longe, na curva da baixada, querendo saber quem era, olhou, mas nada viu. A cantoria continuava, ainda não dava para saber a letra, mas sabia que era uma cantoria de lamúria e pesar.
João percebeu que Pedro tentava decifrar alguma coisa, mas não obtinha êxito. João se aproximou de Pedro e perguntou:
- Pedro você está escutando alguma coisa? Você parece preocupado.
- Estou ouvindo uma cantoria de lamento trazida pelo vento, mais ainda não sei o que é no momento. – Diz Pedro explicando a João o que estava acontecendo.
André deu um pulo e ficou de pé, se aproximou de Pedro e João e com a mão apontou para a estrada meio escurecida, apontou o dedo indicador em direção à baixada e falou:
- Vem alguém na estrada, sua cabeça surgiu, vem encoberta por um manto, pode ser até um santo, mas nesta noite de espanto até eles perdem o seu encanto.
Pedro e João já com o coração na mão vê aquela imagem com preocupação e chama todos com atenção para uma rápida reunião.
Tomé que descalçava a alpargata apertada e coçava o calo que o incomodou toda jornada esbugalhou os olhos preocupado com o que se passava e questionou:
- O que está acontecendo? Que zum-zum é este, de onde vem esta cantoria, parece lamento de um bezerro perdido.
Felipe mantendo a calma como aqueles que dominam a alma, vive a vida e não reclama tenta manter todos em paz.
- Amigos vamos esperar que chegue perto, com esta penumbra tudo fica encoberto, temos que ficar alerto, mas deixem o cidadão chegar bem perto. – Diz Felipe acalmando os viajantes.
- Tem razão Felipe, estamos com medo e julgamos a pessoa sem saber quem ela realmente é. – Diz Mateus orientado os amigos.
- Estamos em número maior, vamos aguardar sua chegada com cuidado e aborda-lo sem demostrar medo. – Diz Bartolomeu prevendo um diálogo com o viajante desconhecido.
Tadeu desconfiado foi para perto de Simão, ficaram observando a vinda do cidadão, que bem devagar vinha levantando uma leve poeira da estrada do sertão.
O tempo parecia ter passado rápido até a chegada do desconhecido, a noite já estava sendo desfeita pela grande lua cheia que iluminava a estrada e revelava uma noite clareiam-te nunca vista antes.
O desconhecido por fim chegou, todos ficaram arredios só Zelote se manifestou, foi em sua direção, estendeu a mão e o cumprimentou.
Sem medo consentido, todos seguiram Zelote, foram se cumprimentando acolhendo o viajante que sem se sentir ofendido estendeu a mão para todos ali naquela grande braúna de acolhidos.
Conversa vai e conversa vem ninguém prestou atenção onde Judas tinha andado ou se a alguém ele tinha avisado de sua saída repentina, tinha ganhado a estrada ou estava executando alguma obra na campina.
A conversa foi ficando animada e o desconhecido tirou o manto que o encobria, revelou seu nome e por que ali estaria.
A missão que lhe cabia era avisar o sertanejo do que sempre pressentia um novo começo para o povo sofrido, a água suficiente para o sertanejo, é assim que pressinto é assim que vejo dizia em um tom de voz manso, falando dos novos tempos para o sertanejo. O povo vai ser liberto e não terá patrão e os políticos corruptos serão raros aqui no meu sertão.
Em um circulo escutando o agora conhecido Tiago, filho de Zé Bedeu, todos se deram as mãos e em uma fervorosa oração pediram um novo dia para o povo do sertão.
Sentiram a presença de Deus em uma reza fiel debaixo da grande braúna, mas não perceberam que aquele momento ia cair em tristeza profunda. Judas que tinha desaparecido no momento da apresentação, não sabia por que aquele Beato estava ali, não fez questão de escutar suas palavras e suas razões e sem compaixão deferiu-lhe um golpe fatal com um punhal prolixo de ódio.
Tiago filho de Alfeu mostrou rapidez e no desespero conteve Judas que tentou reagir, mas foi contido. Após sua insanidade descomunal foi expulso dos demais, deixando a sombra agora tenebrosa da braúna saindo em busca de seu comparsa o satanás.