Textos
DO SERTÃO A BRASÍLIA
No mês de fevereiro
Nasci no torrado sertão
Onde a seca nunca termina
Eu e mais nove irmãos
Embalado no mesmo berço
Amparado pela mesma mão
Não esqueço cada dia
De sofrimento e espera
Cada estação uma promessa
De uma nova quimera
Uns diziam ser mês que vem
Outros só na primavera
As previsões eram diversas
Sem qualquer gota d’água cair
Olhava para céu na esperança
De uma branca nuvem surgir
Mas o que via era só secura
Fazendo a plantação sumir
Ouvia de longe o berro do boi
Mostrando a fome e seu penar
Restava a copa das catingueiras
Pra gente subir ao topo e cortar
Pois se via as magras costelas
E a morte querendo lhe levar
As cabras iam ficando tão magras
Que chocalhos não podiam carregar
Restavam apenas os grandes avelóz
Com talos verdes para a fome matar
As cabras de longe eram pássaros
Subindo no avelóz e querendo voar
A seca era medonha de se aturar
Sejam homens ou animais
Todos sofriam as angustias e penar
Em casas de taipas e currais
Num tempo sem pressa e sinais
Com a morte na espreita a chamar.
Pra fugir desta terra esquecida
Um plano melindroso foi ministrado
Vendendo tudo que tinha obtido
As galinhas, o jumento e o gado.
Tínhamos que fugir da morte
Deixando a terra sem vida
Renunciando para trás o norte.
Quando no sertão entoou
A venda de nossa terra
Um político logo topou
Fazendo oferta imoral
Queria comprar nossa terra
Pelo um punhado de sal.
Nunca tinha visto tanta carestia
A fome e a seca parecem que se unia
Queria a vida dos sertanejos
Ou sua fuga para outras etnias
Não podia ficar ali agricultores
Com seus sonhos e desejos.
Diante desta situação sem saída
Não havia outra solução
Ou a gente vendia para o patrão
Tudo que tinha ganhado com suor
Ou ficava como escravo da seca
Na mão do patrão sem dor.
Com tudo planejado e arrumado
E com miseráveis cobres na mão
Partimos para Brasília
Eu e nove irmãos
Não sabíamos do certo e errado
Mas nosso futuro era o serrado.
Foi uma viagem duradoura e sofrida
Sustentados por farinha seca
E nhambus fritas abatidas
Mas o olhar era para o horizonte
Agora não tinha mais volta na ida
A sorte que aprumasse a gente.
Depois de dias incontáveis
Pela poeira no rosto rachado
Chegamos a Brasília
Tudo aqui ainda era serrado
Não parecia um lugar ideal
Para viver e morar uma família.
A labuta foi medonha
Mas o serrado foi desbravado
Tudo que não parecia bom
Foi ficando domado
Como se fossemos vaqueiros
Tomando as rédeas do serrado.
Fomos crescendo junto com Brasília
As satélites surgindo pelos lados
E a gente criando outras famílias
Mesmo sentindo saudade do meu sertão
Não troca agora meu torrão
Pelo nordeste de coronéis bitolados.
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 24/07/2012
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