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AFRONTO A UM NORDESTINO
Hoje não foi um bom dia
Encontrei um cabra da peste
Que me afrontou
E dizia com voz altiva
Tu não é nordestino
Nunca viu uma patativa
Pois saíste de lá menino
Nem sabe onde é o nordeste
Fiquei logo muito enfezado
E depressa lhe falei
Muito arretado muitas boas
Como pode um cabra safado
Duvidar de um nordestino arretado
Só porque deixou seu estado
Sem saber de seu pranto e mágoas
Olhe aqui cidadão
De onde eu nem sei
Nunca duvide de um nordestino
Sem saber sua história
De onde veio
Fique sabendo
Quem traça seu destino
É o nosso Senhor
Jesus Cristo nosso rei
Que nos consola
Desde pequenino
Agora que vos mercê
Veio e desafiou
Duvidou de minha origem
E nascença
Vou dizer de novo
Em poucas palavras
De onde sou
Sou lá do sertão torrado
Nascido em Irajaí
Devoto de São José
Município da Iguaraci
Oriundo de um povo
Sua cultura e fé.
Se você quiser abestado
Mais prova da origem
Vou logo dizendo
Onde fui criado
Naquelas caatingas virgens
Nas terras secas do sertão
Eu meu pai,
Minha mãe e nove irmãos
Tomando banho nos riachos
E vagando pelos açudes
Percorrendo trechos
Plantando milho
Feijão de corda e favas,
Para guardar
E enfrentar as secas rudes.
Cabra da peste
Vos mercê num conhece a razão
Não conhece o nordeste
Por que um nordestino
Foge da fome do sertão
Por mais que não queira
E lhe aperte o coração
Ele tem que partir
Mesmo que tenha uma paixão
Sai com uma desculpa
E deixa uma carta na mão
As lágrimas escorrem no rosto
Dizendo vai não.
Mas a partida é inevitável
Em razão da quimera
Talvez volte a qualquer dia
Com uma explicação,
Num inverno duradoiro
Ou quem sebe na primavera
Trazendo as dores
Desgostos de uma nova visão
Por que saímos de nossa terra
Largamos o sertão,
Será esta a única forma
De construirmos esta nação.
Para que você não esquece
Nunca desdenha de onde sou
Muitas arapucas eu armei
Pesquei e nadei em açudes
E arataca em trilhas armei
De bodoques atirei
E em um dia ensolarado
Jogando bolinhas de gudes
No terreiro do Seu Emídio
Vi quando Austrezezílio nasceu
Para você que não conhece
Zílio é um cantor do sertão
Que como o sabiá nasceu
Sabendo cantar e tocar violão
A pobreza não foi empecilho
Mesmo sem quem ensinasse
Dedilhou cordas e fez canção
E ainda com seu teclado
Faz seresta em todo sertão
Não tenha mais nada a dizer
Se quiser mais prova
Faça uma trova
E provoque o trovador
Pois poeta no sertão
Nasce de montão
Como arribaçã
Que vira peste na região.
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 20/09/2012
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