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LÉO PAJEÚ LÉO BARGOM LEONIRES
Poesias e Contos, Sentimentos e Versos, Sonhos e Visões de um Premonitor.
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O CARRO PRETO E OS LADRÕES DE ÓRGÃOS
 
          Era um fim de tarde frio em Brasília, uma leve chuva tinha deixado o asfalto e as passarelas de concreto úmidas, quase não havia circulação de pessoas nas ruas das entre quadras, algumas luzes dos postes onde havia mais sombras feitas pelos prédios já começavam a se acender.
          Felipe se despedia de Fábio embaixo do bloco nesse fim de tarde frio, ajeitava em sua mochila com seu Playstation 3 o qual tinha passado toda tarde jogando videogame, sem qualquer malícia e se sentindo seguro como sempre fazia o percurso até chegar em seu bloco nada de anormal percebia em sua volta.
         Um carro preto com vidros escuros começava a andar bem devagar entre as ruas dos blocos naquele momento de fim de uma tarde fria sem chamar atenção. Felipe andava sem pressa e como sempre se sentia seguro andando entre os blocos da Asa Sul.
          Apesar de a noite ainda não ter chegado de vez, mas como tinha caído essa chuva leve e o dia tinha sido um pouco cinzento, as ruas com o auxilio das grandes árvores e os prédios fazia com que aquele ambiente ficasse um pouco na penumbra, deixando aquele fim de tarde quase noite.
          Felipe não percebia, mas o carro preto lhe acompanhava de perto com pouca velocidade, faroletes acesos sem que chama-se sua atenção. Ao se deparar na calçada com um Velho Senhor que vinha caminhando com um pouco de dificuldade, Felipe se limitou a andar pela sua direita para não dar de frente com o transeunte, por instante sentiu um pouco de medo.
          O Velho Senhor ao passar por Felipe lhe fez um alerta:
     - Filho não ande sozinho, estas ruas estão perigosas, procure chegar rápido a seu bloco. – Diz o Velho com um pouco de dificuldade e com sua voz rude.
          Com um olhar assustado Felipe apresa o passo e não responde o Velho Senhor. Nesse instante o carro preto emparelha com Felipe e por algum tempo percorre o caminho lado a lado. Felipe ainda pensando no que o Velho Senhor falou andando vagorosamente se volta para trás em alguns momentos para vê se ele sumiu de suas vistas.
          O carro preto permanece pela rua em pouca velocidade, Felipe continua pensando no susto que teve com o Velho Senhor e não percebe que estar sendo seguido, bem próximo tem um espaço maior onde se divide as próximas quadras, a comercial que fica mais abaixo parece vazia por causa do frio e da chuva fina que acabara de cair no fim da tarde.
          As sombras das árvores parecem ficar mais escuras, Felipe percebe, mas não recua, tem que seguir em frente, seu bloco agora fica mais perto, em uma reação de medo natural apressa o passo, mas neste instante o carro preto para um pouco adiante e dois homens vestidos de roupas pretas descem, o abordam e o carregam para dentro do carro escuro muito rápido.
         Não há tempo, não acontece qualquer reação, nem um grito foi possível emitir naquela reação rápida dos homens de preto. Naquele momento as ruas pareciam mais frias e desertas que o normal para aquele início de noite. A pouca água que tinha caído com a chuva fina ia deixando um reflexo nas ruas quando as luzes dos postes de iluminação acendiam uma por uma.
          Dona Vera olhava o relógio a cada instante, era como se os ponteiros estivessem em descompasso com sua visão. O tempo passava e nada de Felipe chegar ao apartamento, como sempre Dona Vera marcava o tempo para sua chegada e controlava seu percurso para ter certeza de sua chegada ao tempo previsto.
          Nesse dia Felipe não cumpriu sua meta e Dona Vera já começou a se preocupar, desceu de seu apartamento, foi até a guarita da portaria do prédio para pedir informação ao porteiro, sua informação foi negativo, até aquele momento seu filho não tinha chegado.
         Preocupada Dona Vera convocou alguns colegas de Felipe debaixo do bloco para fazer um pouco do percurso do qual ele sempre vinha na tentativa de encontra-lo pelo caminho. Depois de algum tempo os colegas apareceram sem qualquer informação do filho de Dona Vera que a fez ficar atônita com a situação.
          Dona Vera já prevendo alguma coisa liga para a mãe de Fábio na tentativa de descobrir o paradeiro de Felipe.
     - Oi, aqui é a mãe de Felipe, gostaria de saber se ele já saiu daí. – Fala com preocupação Dona Vera.
     - Ele já foi Dona Vera, saiu no horário de sempre, Fábio foi deixa-lo na portaria do bloco já faz um tempo. – Responde a mãe de Fábio amigo de Felipe.
     - Estou preocupada, até agora Felipe não chegou e pelo tempo que chegava sempre já passou da hora. – Diz Dona Vera com muita preocupação.
     - Eu entendo, mas espera mais um pouco, quem sabe ele não se atrasou e deve chegar a qualquer momento. – Diz a mãe de Fábio tentando fazer com Dona Vera fique mais calma.
     - Vou esperar mais um pouco, se ele não chegar vou até a polícia. – Explica Dona Vera já muito tensa.
          O tempo foi passando e nada de Felipe aparecer, em uma reação espontânea Dona Vera procurou um posto policial das entre quadras para registrar o desaparecimento de seu filho, mas ao chegar não havia nenhum policial ou viatura no local.
          Desesperada e sem esperar nenhum momento Dona Vera vai à delegacia de polícia civil registrar uma ocorrência, para sua surpresa o atendente não fez a ocorrência por se tratar de um desaparecimento muito precoce, ela tinha que aguardar até o dia seguinte, pois segundo o policial seu filho poderia está em qualquer lugar, na casa de um amiguinho, brincando pelo o caminho e por isso não seria necessário o registro imediato, tinha que aguardar mais tempo.
          Revoltada Dona Vera retorna ao bloco, procura por informações e ninguém sabe do paradeiro de Felipe. O desespero toma conta e após algum tempo Dona Vera começa a fazer o percurso que Felipe sempre fazia quando vinha do bloco de seu amigo Fábio.
          Ao percorrer metade do percurso Dona Vera percebeu que o caminho era bastante tenebroso à noite, as ruas eram escuras e as árvores deixava o lugar com um aspecto nebuloso. Agora não podia desistir tinha que fazer aquele percurso até o bloco de Fábio, seu olhar criterioso e assustado percorria todos os cantos na esperança de achar Felipe pelo caminho.
          Um vulto mais a frente fez com que Dona Vera ficasse assustada, mas não tinha como voltar atrás, um Velho Senhor vinha em sua direção, seu andar não era retilíneo, havia dificuldades em suas passadas, por alguns segundos ficou apreensiva, mas caminhou da direção do vulto sem pressa.
          Ao se aproximar do Velho Senhor apesar do medo Dona Vera lhe perguntou por seu filho:
     - Desculpe-me Senhor, mas não viu um menino andando por ai neste fim de tarde. – Pergunta Dona Vera meio assustada.
     - Vi sim Dona, quando passei por aqui já algum tempo me deparei com um menino, até lhe aconselhei ir embora rápido para sua casa, pois não havia muita gente nas ruas, poderia correr perigo. – Responde o Velho Senhor.
     - O Senhor não viu se ele parou, falou com alguém, desviou o caminho? – Pergunta Dona Vera preocupada.
     - Isso eu não vi, mas tinha um carro preto percorrendo essas ruas bem devagar, até desconfiei, avisei para a viatura que encontrei ali na frente, mas eles nem deram atenção a um Velho Senhor que faz caminhada até em dias como estes, eles até sorriram e disseram que iam, mas não os vi por estas bandas. – Explica o Velho Senhor com calma.
     - O que o Senhor acha desse carro preto, tem algum perigo, são pessoas más. – Pergunta Dona Vera com muita preocupação nesse memento.
     - Há muito tempo faço caminhada nessas ruas e sempre percebi que esse carro preto anda por todos os lados, só quem não vê é a polícia, ouvi dizer que um menino foi sequestrado ali num bloco bem à frente e que uma parte de seu fígado tinha sido retirada, dizem que ele apareceu dois dias depois sem saber onde esteve e com um corte no abdome costurado. – Explica o Velho Senhor com detalhes.
     - Minha Nossa Senhora, onde pode esta me filho, será que foi sequestrado, vou voltar até a delegacia e falar essa história, espero que façam o registro de seu desparecimento e o procurem. – Diz Dona Vera desesperada.
     - Olha Dona, a senhora pode até ir lá, mas eles nem tão ai, teve gente que já foi lá falar sobre esse carro preto e eles dizem que isso é estória. – Diz o Velho demostrando decepção em sua voz rouca.
     - Vou lá assim mesmo, eles tem que registrar o desaparecimento do meu filho e investigar esse carro preto que anda por ai causando medo a população. – Diz Dona Vera com revolta em sua voz.
          Após algum tempo Dona Vera retorna a delegacia, argumenta e conta à história que o Velho Senhor lhe contou, mas ouve apenas sorrisos e piadas:
     - Mais uma daquelas malucas que deixam seu filho ir para a rua, depois fica perturbando nosso trabalho com estória que o povo conta. – Diz rindo um dos policiais presentes.
     - Olha aqui, eu não sou maluca, meu filho despareceu já faz mais de seis horas, tenho certeza que ele não foi para a casa de amigos, pode estar correndo perigo e vocês não podem registrar uma ocorrência, nem procura-lo. – Diz Dona Vera aflita.
     - Nós trabalhamos com coisa séria minha Senhora, essa fantasia que o povo inventa não existe, vá pra sua casa e aguarde que seu filho vai aparecer e lhe contar por onde andou, isso é coisa de adolescente. – Diz um dos policiais sorrindo sem muita atenção.
     - Mas e a história do desaparecimento de um menino de um bloco aqui por perto, segundo o Velho Senhor ele reapareceu dois dias depois com uma cicatriz no abdome, todo costurado, tinham lhe tirado uma parte de seu fígado, isso não é verdade? – Diz Dona Vera com um olhar arregalado e aflito.
     - Isso é invenção do povo, essa gente não tem o que fazer, ai fica inventando lendas urbanas para nos encher o saco, temos mais o que fazer Dona. – Responde um dos policiais.
     - Tudo bem se vocês não querem fazer o serviço que é de sua obrigação, vou reunir toda minha família e vamos procurar meu filho. – Diz Dona Vera desolada e em lágrimas.
     - Olha aqui minha senhora, isso é desacato, se não quiser ser presa vai dando o fora rápido. – Ameaça um dos policiais.
          Em lágrimas e desolada Dona Vera começa a convocar toda sua família para fazer uma busca e tentar encontrar seu filho Felipe. Por toda noite e o dia seguinte todos os familiares vasculharam vários quadras e cantos da cidade que poderiam encontrar Felipe, mas tudo em vão, ninguém encontrou qualquer pista.
          Chegou à segunda noite e Dona Vera não conseguia encontrar seu filho, o choro era constante, ninguém a consolava, nem a polícia depois de reconhecer o erro conseguiu encontrar qualquer paradeiro de Felipe.
          A terceira noite Dona Vera não resistiu e foi novamente fazer o percurso que Felipe fazia quando vinha da casa do amigo Fábio. Criteriosamente enquanto andava olhava para todos os lados tentando encontrar alguma coisa entre as árvores ou plantas que ornamentavam os blocos.
         A noite já tinha se feito e o escuro entre as árvores e os prédios predominava. Novamente Dona Vera ao olhar a sua frente observou um vulto bem adiante, começou a pensar em várias situações, mas nenhuma batia com as características de seu filho.  Nesse momento não teve medo e apressou o passo para descobrir quem era, e ao se aproximar viu que se tratava do Velho Senhor que fazia suas caminhadas por aquele caminho todos os dias.
         Sua pressa agora não justificava mais, mas ao perceber que o Velho Senhor olhava meio estranho para o lado, como se tivesse visto ou encontrado alguma coisa, novamente sua adrenalina subiu, fazendo seu coração bater forte em seu peito. Com calma, mas assustada Dona Vera notou que o Velho Senhor observava um carro preto circulando bem entre os blocos.
          Agora seu coração queria sair pela boca. Nesse instante o carro preto parou, sua porta traseira esquerda foi aberta e de lá saiu um vulto que no escuro que estava não dava bem para saber quem era. Um suspense ficou no ar, mesmo sem poder andar com pressa o Velho Senhor começou andar em direção do vulto como se prevê algo. Dona Vera já desconfiada também foi em direção do vulto que tinha saído de dentro do carro preto o qual ficou parado em baixo de uma grande árvore não favorecendo sua identificação.
          Nesse instante o carro preto é acelerado e sai cantando pneus pela rua. Sem se preocupar com o carro Dona Vera e o Velho Senhor chega perto do vulto que se encontra embaixo da árvore perto de um bloco. Ao se aproximarem observam que é um menino, Dona Vera vê que seu coração quer explodir dentro de seu peito enquanto se aproxima mais.
          O Velho Senhor segura o menino pelo braço vendo que ele não se encontra bem de saúde. Dona Vera ao se aproximar vê que é seu filho e tenta abraça-lo, mas é contida pelo Velho Senhor. Logo Dona Vera percebe que o Velho tem razão e leva Felipe para debaixo de uma luz do poste da rua próximo descobrindo em seguida o grande corte mal costurado que atravessa o abdome de seu filho quase de lado a lado.
          Um carro da polícia entra pela rua entre os blocos em alta velocidade se aproximando de Dona Vera e o Velho Senhor. Ao abordá-los não se preocupam com a situação de Felipe, apenas algemam o Velho Senhor e o acusam de sequestro de menores. Dona Vera ainda entre o desespero e a alegria de reencontrar seu filho tenta convencer os policiais da inocência do Velho Senhor, mas os policiais alegam que ele é responsável pelo o sumiço de Felipe e o levam dentro da viatura para prestar esclarecimento.
          Dias depois após sua liberdade em sua caminhada noturna o Velho Senhor observa quando uns faroletes em um estacionamento escuro acendem-se e apagam-se, como se avisasse que ainda estava por ali. O carro preto não dava para ser visto, mas os faroletes ainda acenderam e apagaram umas duas vezes antes de ficar em total penumbra estacionado em baixo de uma grande árvore próximo a um bloco.
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 14/08/2013
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
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