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ANUÁRIO DE HELOÍSA
ANUÁRIO DE HELOISAA MENINA DA CHUPETA ROSA
Cadê minha chupeta? Cadê minha chupeta? Quem pegou minha chupeta? Logo ao amanhecer todo mundo ouvia essa ladainha como uma música entediante ou até como um som de uma corneta de um pontual corneteiro de um quartel. Assim é Heloisa, uma menina de apenas três anos, mas não parece, não parece mesmo, quem a conhece logo percebe que três anos é pouco para uma menina que tem uma personalidade forte, pensa antes de falar, observa tudo em sua volta e como se já fosse dona de si requer silêncio para que todos a escute. Isso é apenas o começo, porque conhecer Heloisa é um curso intensivo de psicologia infantil, pois se você pensa que vai ganhar pela simpatia, pelo sorriso, no olhar sério, na oratória, na expressividade e espontaneidade, já perdeu, ela ocupa todos os espaços, não vai sobrar pra você, acho melhor você se sentar e assistir sua desenvoltura no ambiente que ela estiver. Heloisa tem uma fraqueza, isso mesmo não demorou muito para que eu descobrisse o tendão de Aquiles dessa menina mágica. A cor rosa, quer ganhar a amizade, um sorriso maroto, vê umas bochechas cheinhas rosadas e dois olhinhos como dois brilhantes preciosos, dê um presente, qualquer coisa rosa, não precisa se preocupar com o valor ou a beleza do presente, só que tem que ser rosa, ai você arranca um sorriso, um abraço, uma amizade duradoura. Antes pensava que sua fraqueza era seus animais, Heloisa me falou de tantos, mas só decorei um, Seedorf, seu cachorro bravo, se você pensa que este cão é brincadeira, não se engane. Seedorf é amigo protetor de Heloisa, não se arrisque chegar perto sem sua ordem, se ela falar pega o cão parte pra cima e lhe protege de qualquer coisa, ele é ensinado, assim diz ela com um sorriso largo.
Outro animal de Heloisa que até me causou medo é a Jiboia que ela tem e vive em seu quintal sobre as árvores, assim ela me contou. Se Seedorf não desse jeito sua Jiboia iria resolver o problema, pois ela se escondia entre as folhas das árvores e seu bote era certeiro, ninguém escaparia de laço e o aperto até quebrar os ossos, assim Heloisa definia a ação dessa cobra temida por todos. Enquanto conversava com Heloisa observava sua chupeta se movendo de um canto da boca ao outro, não conseguia entender como uma menina tão pequena fazia aquilo com tanta naturalidade e habilidade, sua agilidade com a chupeta era tão grande que acho que ela até comia e bebia sem tirar a chupeta da boca. Aquela cena lhe gerou um apelido “A Menina da Chupeta Rosa”, ninguém ainda tinha lhe convencido a largar esse objeto, sua avó com muito custo tinha lhe convencido a largar a mamadeira, isso mesmo, mamadeira, Heloisa tinha acabado de ser convencida, mas sua chupeta nem pensar. Minha conversa não lhe agradou, minha sugestão de que largasse aquela chupeta rosa, velha, desgastada, já sem cor, não foi bem vinda, logo cerrou o rosto, arregalou os olhos, bem séria, querendo dizer apenas uma palavra com sua expressão, “NÃO”? Nossa conversa se tornou em um debate, minhas tentativas foram em vão, todos os meus argumentos foram derrubados, Heloisa tinha resposta para tudo, tinha explicação para todas as minhas perguntas. Tentei convencê-la, juro que tentei, mas não consegui, ela era mais convincente, sua personalidade tinha se fixado em uma rocha, ninguém podia quebrá-la, estava firme no chão. Apesar de toda essa resistência, não desisti, procurei outra forma de tirar essa chupeta de sua boca, de sua vida. Transformei-me em um personagem, um super-herói, conhecedor de tudo e amigo de todos os outros heróis, minhas tentativas eram combatidas e mesmo com uma liga da justiça não conseguia convencê-la de largar aquela chupeta rosa. Em uma tentativa meio vaga me transformei em Peter Pan, a noite iria a sua casa com Sininho e com sua ajuda com a porção mágica iria pegar sua chupeta, quando acordasse não iria encontrar e daquele dia em diante esquecia a chupeta. Sua reação foi espontânea, um olhar de quase choro, a cara cerrada de raiva e a chupeta sendo escondida em seu bolso. Pronto acabou a conversa, Heloisa foi embora. Noutro dia Heloisa chegou com um largo sorriso, um vestidinho florido, parecia maior, mais velha, compenetrada, séria, seu olhar parecia mais intenso, o brilho era diferente, fez com pensasse que tinha largado a chupeta rosa. Percebi que agia indiferente, sem compromisso, como se tivesse tomado uma decisão séria, importante. Depois de circular para um lado e para outro Heloisa tirou de seu bolso uma nova chupeta rosa, nova, bem novinha, daquelas que chama atenção, parecia de propósito, era para me provocar. Após mostrar para todo mundo aquela chupeta, vagarosamente a colocou na boca, sugando-a com gosto, demonstrando assim que sua vontade prevalecia. Sabia que a partir daquele momento que tinha perdido a parada, então só me restava registrar isso, a historinha de “A Menina da Chupeta Rosa”.
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 17/10/2013
Alterado em 18/02/2014
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