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LÉO PAJEÚ LÉO BARGOM LEONIRES
Poesias e Contos, Sentimentos e Versos, Sonhos e Visões de um Premonitor.
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COMBATE MORTAL NO CEMITÉRIO ABANDONADO
 
          O sol acaba de se ocultar por detrás da grande árvore da entrada do cemitério abandonado de Brazlândia, algumas nuvens pesadas ajudam a escurecer o céu e dar um tom cinéreo ao final do dia. Neste fim de tarde parece que tudo se ordena para uma noite carregada, de aparições, de reuniões de senhores do mau, de acontecimentos inexplicáveis e temerosos.
          O Padre Cícero chega apressado a Igreja São Sebastião, sua missão parecia que tinha ocupado mais tempo do que se dispunha, enquanto arrumava sua batina comentava sobre a missão que acabava de cumprir.
     - Hoje já é a segunda vez que atendo um chamado para benzer uma casa aqui nas proximidades. – Tenho impressão que alguma coisa não vai bem por aqui. – Um grande mau cheiro estar invadindo algumas casas, e não vem do esgoto como muita gente pensa, parece que começa bem devagar depois fica impregnado e fica parecendo coisa do cão. – Diz o Padre Cícero enquanto arruma sua batina.
     - Como assim Padre, um fedor que fica impregnado, que nem parece com o de esgoto, esse fedor vem de onde, será coisa de pessoas mortas. – Diz o Sacristão com os olhos assustados.
     - Isso mesmo meu filho, tenho impressão que nesta região tem alguém ou alguma coisa ruim tentando arrastar pessoas para pratica do maligno. – Diz o Padre também demonstrando susto em sua atitude e fala.
     - Ouvi falar que alguns jovens estão frequentando o cemitério abandonado à noite, ainda comentam que fazem rituais, será que estão invocando alguma coisa Padre. – Diz o Sacristão mais assustado ainda.
     - Então temos que procurar saber dessas coisas, se é verdadeiro ou é apenas brincadeira desses jovens excêntricos.
          Enquanto a conversa ganha detalhes Cristal os escuta e observa numa posição comum de quem faz sua oração em silêncio na Igreja. Encoberta com um lenço sobre a cabeça Cristal se mantém de joelhos fazendo sua oração aguardando mais informações da conversa do Padre e o sacristão. A missa já vai começar, o Padre se dirige aos fieis fazendo um gesto enquanto pega o microfone.
          Cristal sai da Igreja sem que ninguém perceba, parecia que nem estava ali. O Padre ainda percorre com os olhos todos os cantos tentando descobrir quem é aquela garota que ainda não tinha visto por ali antes, mas como uma leve nuvem ela desapareceu.
          Já no estacionamento a frente da Igreja São Sebastião Cristal liga para Xavier:
     - Xavier seu eu Cristal, tenho informações importantes, temos que nos encontrar aqui no Setor Tradicional, venha logo, acho que sei onde podemos encontrar o Corpo Seco. – Diz Cristal enquanto observa muitas pessoas chegando a Igreja.
          Xavier desliga o telefone depressa e se despede de Lázaro, liga sua moto e sai levanto sua frente em velocidade fazendo zigue-zague. A noite chega rápido, parece que quando as notícias chegam sobre o Corpo Seco à noite se apressa mais.
          Próximo à entrada do cemitério abandonado uma moita parece tremer, as folhas se mexendo denunciam alguém lá ou essa pessoa que ser encontrada ou vista por quem passar por perto. Tremendo de medo e com seus olhos arregalados Alice observa a entrada do cemitério. Como a noite chega rápido o medo toma conta e sem cerimônia liga falando baixinho para Cristal.
     - Alô, alô, Cristal, tá me ouvindo, estou aqui na entrada do cemitério abandonado e acho que hoje vai ter alguma coisa aqui, venha logo, estou morrendo de medo. – Diz Alice se tremendo abraçando seu próprio corpo de frio.
     - O que você estar fazendo ai, estou indo agora mesmo, tenha cuidado, não se mexa, estou chegando. – Diz Cristal tentando manter Alice calma.
          Não demora muito Cristal chega e abraça Alice para que ela fique mais calma. As duas ainda escondidas ficam obsevando a entrada do cemitério abandonado. Passam-se alguns minutos e começam a aparecer os jovens que se adentram a cemitério em fila indiana, como se estivessem sob efeito de alguma droga ou maldição.
          O céu agora parece mais carregado, o clima mais frio é anunciado por um vento que começa a balançar as pontas das árvores em volta, as nuvens parecem mais próximas da terra de tão negras que aparentam.
          Mais jovens chegam, alguns falam alguma coisa, outros gesticulam, mas aparentemente estão todos bêbados ou drogados, as garrafas de bebidas nas mãos de alguns confirmam isso.
          Um jovem chega gesticulando e mais exaltado, parece ser o líder ou quem estar fazendo aquela reunião macabra ou exótica naquele cemitério abandonado, ninguém em sua sanidade mental normal iria convidar amigos para um local tão estranho.
          Algum tempo passou e tudo ficou em silêncio, por aquele momento ninguém mais entrava no cemitério abandonado, parecia que todos os convidados já tinham chegado, não faltava mais ninguém.
          Nesse instante o esconderijo onde estavam Cristal e Alice foi descoberto, o susto foi de parar o coração, mas se tratava de Xavier que chegou bem de mansinho enquanto as duas ficavam de olhos voltados para a entrada do cemitério abandonado.
     - Fique atento para todos os lados, tá vendo como foi fácil pegar vocês, e se fosse um deles, se fosse o Corpo Seco, já estavam mortas vivas minhas filhas. – Diz Xavier debochando das duas.
     - Você nos matou de susto, estou tremendo. – Diz Alice se tremendo de medo.
     - Vai se acostumando, esse ai acha que pode tudo, sempre chega desse jeito, já estou acostumada. – Diz Cristal balançando a cabeça de negatividade.
     - É só pra quebrar o clima, acho que estavam muito tensas, fiquei observando vocês por alguns segundos, vi que o caso é sério. – Diz Xavier tentando deixar Alice e Cristal mais tranquilas.
     - E é mesmo, ouvi a conversa do Padre e o Sacristão lá na Igreja São Sebastião e percebendo o tema logo te liguei, quando pensava que estava tranquila, essa aqui já estava vigiando a entrada, corri logo pra cá. – Diz Cristal apontando o dedo para Alice.
     - Só que tem mais coisa, nem imagina que entrou em contato comigo, a velha senhora, Vulto Suave me ligou, temos mais problemas, a Bruxa do Manto Negro anda procurando almas penadas por todo canto, está em Águas Claras em um condomínio onde morreu uma mulher e seu gato preto caindo do décimo terceiro andar, já os invocaram. – Diz Xavier passando o ocorrido antes de lhe encontrar.
     - Agora que estamos ferrados, já temos esse problema com o Corpo Seco resgatando corpos aqui nessa região e também a Bruxa do Manto Negro formando seu exército, como vamos combater tudo isso. – Diz Cristal assustada com tantos acontecimentos.
     - Não se preocupe Cristal, também temos nosso exército do bem, não se esqueça de que agora contamos com mais uma não é Alice. – Diz Xavier sorrindo para Alice contanto com sua coragem.
     - Logo comigo, ainda nem cheguei vocês já estão me metendo numa enrascada dessa, vou fazer o que puder, mas se o negócio ficar ruim terá que pedir ajuda. – Diz Alice agora mais calma e compenetrada no assunto.
     - Pode acreditar se Corpo Seco e a Bruxa do Manto Negro se juntarem estaremos em apuros, mas não vamos desistir, lutaremos até o fim. – Pensem em um exército de corpos secos e espectros negros, será um combate de arrepiar. – Toda ajuda será bem vinda, teremos que contar com todo mundo que puder nos ajudar. – Diz Xavier prevendo um encontro com a dupla do mau.

          Nesse instante um galho seco é quebrado e o barulho toma conta da noite, pois naquele momento tudo estava em silêncio total. Os olhares de Cristal, Alice e Xavier se desviam para o local do barulho. A imagem de um homem magro e alto aparece quase na penumbra entrando no portão do cemitério abandonado, aquele andar lento, aqueles braços com pouco movimento, aquele espectro tenebroso só podia ser o Corpo Seco.

         O tempo pereceu mudar, o frio ficou maior, uma brisa vagava leve fazendo as pontas das árvores e capim balançarem de um lado para outro. Uma onda de fedor começou a tomar conta de tudo, trazendo mau estar em quem estivesse por perto, esse fedor fez Cristal lembrar da história do Padre Cícero.
         Quando Corpo Seco já se encontrava dentro do cemitério abandonado quatro de seus seguidores já transformados e com corpos secos e podres os seguia, esta a razão do fedor em volta.
          Xavier comandando as duas começou a andar em direção da possível reunião dentro do cemitério, ao entrar no portão um calafrio tomou conta de todos os fazendo se arrepiar e se contradizer de ação proposta.
     - Eu não vou entra ai Xavier, vou voltar, estou me sentido mau. – Diz Cristal sob efeito de alguma coisa.
     - Também não quero ir, estou ficando zonza, vamos embora daqui.  Diz Alice compartilhando da mesma ideia de Cristal.
     - O que ouve com vocês, se foi vocês que me chamaram agora estão querendo tirar o corpo fora, nem pensar, vão comigo por bem ou por mau. – Diz Xavier as puxando pelos braços.
     - Pode me deixar, não vou larga meu braço. – Diz Cristal desgarrando da mão de Xavier.
          Xavier observa Cristal que corre em direção a saída do cemitério abandonado o deixando com Alice, esta cai e fica parada sem se mover, não querendo ir ao encontro de Corpo Seco. Xavier vendo que não tinha mais jeito vai sozinho ao encontro da assembleia de exóticos.
          Ao se aproximar observa que o Corpo Seco se encontra no centro gesticulando e falando alguma coisa, mesmo com seu corpo apodrecido como os dos seus seguidores ninguém em volta sente o mau cheiro.
          Atento ao acontecimento Xavier arrisca se aproximar mais, o mau cheiro se torna mais forte lhe provocando enjoo, isso não ocorre com os demais, devem estar sob efeito de álcool ou droga, pois o fedor e muito forte.
          Num momento de distração Corpo Seco se vira em sua direção como se pressentisse sua presença, um olhar de pavor percorre tudo em volta, depois de alguns segundos Corpo Seco se volta a assembleia e começa a gesticular e falar.
          Por um instante Corpo Seco fica parado só observando tudo em volta, isso faz com que Xavier se distraia e fique imaginando o que vai fazer, nesse momento o fedor podre fica mais presente em sua volta, numa reação enérgica tenta fugir, mais agora é tarde, dois seguidores de Corpo Seco o pega e o arrasta pela capim alto que encobre as velhas e desgastadas covas do cemitério abandonado.
          Corpo Seco afasta seus seguidores e observa Xavier sendo arrastado em sua direção, um sorriso amarelo e fedorento é emitido com satisfação. Sem poder sair daquela situação Xavier apenas observa aqueles seguidores mortais lhe rangendo os dentes como se fossem lhe comer.
          Agora a situação não tinha solução imediata, restava-lhe usar suas armas e tentar fugir dali o mais rápido possível, a reação veio rápida, depois do primeiro tiro alguns seguidores se esquivaram, mas receberam nova ordem de Corpo Seco e partiram pra cima de Xavier.
          Aquela noite tudo podia acontecer, a luta seria sangrenta, apesar de os corpos secos saírem apenas pus de suas veias. Seu arco estava em suas costas mas não tinha como usar, então Xavier tentava atirar o mais rápido possível para se afastar de seus algozes oponentes.

          Apesar de sua ação rápida Xavier se via cada vez mais encurralado, Corpo Seco se retirava como se previsse algo, por algum motivo tinha esse dom, percebia as coisas antes de acontecer.
          Uma grande luz é emitida em direção a confusão, alguns tiros é dado e os seguidores de Corpo Seco vão sendo abatidos um a um. A luz ofusca os olhos de Xavier que fica sem saber o que acontece a sua frente.
          Uma voz conhecida lhe deixa tranquilo, pois já estava quase virando um corpo seco. Cristal e Alice chegam lhe ajudando a sair daquela enroscado. Depois de tudo ficar mais tranquilo Cristal fala sorrindo:
     - Ainda bem que o efeito acabou logo, quando saímos do portão do cemitério voltamos ao normal, então decidimos voltar, sabia que você ia acabar com todos, mas queria participar da festa. – Diz Cristal explicando o que ocorreu.
     - É, nem sei o que aconteceu, mas graças a Deus voltamos a normal, agora minha coragem voltou, como que ele faz isso, esse Corpo Seco tem muitos mistérios, como vamos descobrir, como podemos combatê-lo. – Diz Alice com melancolia.
     - Não sei, mas Lázaro e Vulto Suave sabem, teremos que nos unir a eles no combate a esses seguidores do demônio. – Diz Xavier cabisbaixo.
          A noite ainda é sombria, as nuvens pesadas parecem paradas no céu, o vento ainda percorre frio, agora mais leve, a lua minguante aparece timidamente em outro canto do céu por trás de uma nuvem querendo dizer que a noite não vai ser totalmente sombria.
          Os três amigos começam a caminhar em direção do portão de saída do cemitério abandonado, observam a torre de energia elétrica ao lado e as luzes que clareiam a cidade. Ajeitam suas posturas como se fossem para um novo combate e caminham agora com suas sombras ao lado lhe fazendo companhia.
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 03/03/2014
Alterado em 12/03/2014
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