PARTINDO COM O OUTONO
Esta nuvem sombria que não passa
Anunciando o outono que aborda,
Que partilha de minha dor sem fim,
Num presságio que me acorda.
Esta neblina intensa, uma álibi,
Que reparte minha vida assim,
Revelando desejos que não vivi,
Mostrando na névoa a face de mim.
Acho que você não vê meus olhos,
Pois estão embaraçados no tempo,
Vedados pelo vento, nos atalhos,
Retinas encardidas no andamento,
No olhar que lanço, sem te vê, enfim.
Este outono austral que chega manso,
Amarelando meus sonhos viáveis,
Este tempo que esfria meu peito impreciso,
Trás tua imagem, olhos notáveis.
Olho em volta, apenas o outono,
Não quero estar aqui, não sei ficar só,
Não me deixe no abandono,
Tire do meu peito esse nó,
Leve-me contigo outono,
Pelos campos frios e paragens,
Quero sorrir em idas e vindas,
Sem convites, sem passagem.