A MORTE NUA
Oitenta projéteis, movendo-se no espaço,
O cheiro propelente invadindo o ar,
Oitenta espoletas, acesas no mormaço,
Oitenta invólucros, querendo se libertar.
Os projéteis, sofrendo do abandono a si mesmo,
Buscando corpos errantes na rua,
Tão incertos, se movendo a esmo,
Com sede de sangue de carne crua.
Foram mais de oitenta lágrimas,
Oitenta olhares, admirando o pesadelo,
Não era pretensão, diz o senhor das armas,
Era apenas um excesso de zelo.
Ninguém assumiu a culpa do fato,
Nove ou dez, aram os pecadores,
Como não subjugar esse cruel ato,
Sem lembrar do circo de horrores.
Oitenta tiros...
Na rua...
Ansiosos suspiros...
A morte nua...