DE UMA LENDA GAUCHA SURGE O DESTEMIDO...
O Destemido (The Fearless)
Destemido é um adjetivo que qualifica algo ou alguém como corajoso, que não possui temores, ou seja, uma pessoa valente. Quando se diz que determinado indivíduo é conhecido por ser destemido, significa que sua fama é de ser alguém que não tem medo, que consegue enfrentar suas fobias e traumas. Ser destemido não significa não sentir medo, mas saber lidar com ele e seguir em frente.
Já me sentia um garoto forte, mas, o último acontecimento tinha me deixando sem chão. Ao chegar na fazendo do meu velho avô, as lembranças voltavam imediatamente, pareciam vivas em minha mente. Da sacada do grande casarão observava a reserva florestal que meu avô fazia questão de manter em sua forma natural, era bem preservada, sempre ficava fascinado ao ver as duas montanhas que eram separadas pela a nascente, a qual formava um pequeno riacho. O mesmo abastecia toda a fazenda com água pura e fresca.
Aquela floresta me chamava atenção, parecia que eu tinha algum elo com ela, não entendia muito o porquê, mas pressentia. Notei que meu avô chegou, ele se aproximou e também em silêncio, começou a admirar a floresta. Depois sorrateiramente tocou com sua mão pesada, mas suave em meu ombro, parecia caçar palavras para falar e com o peso dos anos me falou.
- Sei de sua dor meu filho...
Era assim que costumava me chamar, apesar de ser seu neto, ele sempre se dirigia para mim, dessa forma.
Olhei para ele com tristeza, mas naquele momento a floresta parecia nos chamar mais atenção. Era um tempo duro, meus pais tinham sido assassinados por poderosos latifundiários, eles eram os protetores e defensores das reservas florestais e de algumas terras indígenas, além de conviver e incentivar pequenos produtores rurais da região. Foi um crime bárbaro, covarde, passaram-se dias as notícias em todos os meios de comunicação do Brasil e o do mundo.
Meu avô me olhou com seus cansados e marejados, depois se posicionou em direção a reserva, e com um olhar profundo me falou...
- Filho, seus pais costumavam olhar a floresta dessa sacada, assim como estamos agora - Até que um dia ele foi chamado por ela, desde então eu esperava o sinal vindo do topo da montanha mais alta, era um sinal de fumaça de pequena proporção, mas denso, como se fosse feito com folha de erva-mate bem verde – Quando percebia a fumaça, sabia que ele estava em boas mãos – Se você for chamado, esteja preparado, naquelas montanhas existem segredos que nem eu e seu pai conseguimos desvendar – Quem sabe você não seja o escolhido – Diz a lenda, que ainda vagam pela reserva, um velho guerreiro e uma deusa Guarani chamada Caã-Yari – Os índios a chamam de Deusa da Erva-Mate, essa planta que cultivamos aqui em nossa fazenda, em muitas gerações – Mas se isso ocorrer você deverá ser um ser “Destemido”, pois muitos segredos ainda não foram desvendado – Diz o Pajé e outros índios da reserva comentam que Tupã, tem enviados rondando a floresta, não se sabe se são o Velho Guerreiro e sua filha, a deusa ou é época de aparecer outro enviado – ouve-se comentário dos índios, que tem noites claras, no qual aparece uma estrela caindo do céu, e na reserva, ouve-se um grande esturro de uma onça pintada, ecoa-se por todo o vale – Se você for chamado, vá conferir se for Destemido, caso contrário, para de se enfeitiçar com as montanhas, ali não é lugar para quem alimenta o medo. – Conta toda a história e sua visão sobre o chamado das montanhas meu avô.
Escutei toda aquela história e meus batimentos cardíacos não se alteraram, então achei que estava preparado para o chamado da floresta.
Era uma noite clara, e da sacada observava toda a extensão da reserva conservada por meus pais e meu avô. Uma luz me chamou atenção na montanha mais alta, acho que era o sinal. Não sabia o que me aguardava, mas tinha que ir, Depois de andar um bom tempo, isso para mim era fácil, minha vida de adolescente era treinar e participar de corridas, sonhava em participar de competição pelo mundo.
Já no topo da montanha, me assustei ao me deparar com um velho índio, pela sua característica, entendia, que se tratava de um Pajé. Este ficou um bom tempo me observando, enquanto eu olhava a intensidade de uma luz, que se aproximava. O velho índio se aproximou, me examinou com seu olhar criterioso e apontou um caminho para o seguir, nada falou, era apenas o olhar e gestos.
A luz parecia se acomodar no topo da montanha e era nessa direção que íamos sem parar. O Pajé chegou diante de um círculo iluminado, ficou de joelhos, apontou um pequeno cajado em minha direção e a intensidade da luz foi diminuindo, aí fundou-se duas imagens, aos poucos foi se revelando, de um lado aparecia um velho índio, com trajes de um guerreiro, do outro lado surgia lentamente uma bela guerreira. O velho Pajé, ainda de joelho, não via o que eu estava vendo, parecia ser acostumado com as imagens que eu via naquele momento.
Um esturro de uma onça pintada ficou bem audível, o velho Pajé se levantou e ao seu lado uma enorme onça pintada surgiu em um piscar de olhos.
O velho guerreiro, já sem a luz que ofuscava, traz nas mãos um Kra Thuá, a arma dos céus. É uma espécie de lança-espada, ela possui uma lâmina feita de ouro e a ponta bem afiada, feita por Tupã e Jaci, consta nela uma empunhadura macia, foi traçada à noite, por isso tem um brilho mágico e tem com enfeites pequenas penas mágicas.
A Deusa Caá- Yaríi tráz em suas mãos uma Paspi, a arma do submundo, essa é abençoada por Anhangá, é uma arma longa e feita de prata escura, esculpida pelo próprio, por ser uma arma mágica, pode causar grandes cortes, causando medo aos inimigos, esta serve para libertar a entrada da porta do inferno, para que a possui.
Todo o mistério daquela noite só estava começando....
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 03/07/2020
Alterado em 05/07/2020