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LÉO PAJEÚ LÉO BARGOM LEONIRES
Poesias e Contos, Sentimentos e Versos, Sonhos e Visões de um Premonitor.
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Textos

O FORRÓ, O PREÁ E A ARENGA

 

          O sábado prometia, o forró na casa de Zé Pinheiro era só animação, todo mundo ia lá, Antônio Pinheiro, seu irmão, tinha o costume de convidar todo mundo, Biliu não perdia um forró, Pedo Peba, Cavalo Doido, Joaquim dos Bodes, Zumira, Lurdinha, Fatinha, Zefinha, Chiquinha e outras mulheres da pequena cidade faziam presença nesse forró arretado.

          O forró era animado, tinha o João Sanfoneiro, Baixinho do Triângulo E Onofre da Zabumba. Entre uns goles de cana, umas cervejas, todo mundo se animava, então a noite era com as estrelas no céu, uma lua minguante, que solitário, parecia mansa, que dizem que tem sua influência chamando para o aquietamento, e quando vamos contra esse chamado, nossa biologia vai reclamar. O corpo, a fim de adequar-se à fase, pede menos esforço, menos atividades, menos estresse e tensão. Agora nesse forró não se via isso não, a animação era contrária à fase da lua, ninguém ficava quieto.

         Acho que nada podia atrapalhar aquele grupo de forró e seus forrozeiros, a zoada corria longe minino. Mas como ninguém sabe o daqui a pouco, então depois de umas danças, uns arrochos para lá e para cá, uns rodopios, as coisas já iam azedando, o suor caindo, os cheiros das bebidas, tudo ia fermentando naquele espaço que com o calor ia ganhando um certo azedume, mas ninguém largava a dança, ninguém ficava parado, cada um com seu par, o chão já tinha poeira já pela canela, manchando as barras das saias das damas.

         Depois da meia noite, o Sanfoneiro João deu uma puxada no fole, como se avisasse que ia descansar um pouco, então todo mundo entendia, era hora de o Sanfoneiro tirar um descanso junto com seus companheiros do Triângulo e da Zabumba, tomar uns goles de cana, tomar uma gelada, para continuar o forró até quando um só casal aguentasse a festança. Todo mundo foi procurando um canto para um descanso, a conversa vai fluindo e o sorriso volta, agora com descontração.

         Nesse intervalo, todo mundo se junta para conversar, contar uma piada, falar no ouvido de alguém. Nesse ajuntamento aconteceu uma situação constrangedora, alguém meio descontrolado, meio desajeitado, ou quem sabe até meio sacana, soltou uma bufa, mas não dessas bufas simples, pouco barulho, pouco fedor, foi uma bufa esbaforida, dessas, que as pessoas ficam sem ar, estando perto do executor do tal feito, todo mundo foi colocando a mão no nariz, mulheres passando mal, um olhando para o outro, tentando descobrir o malfeitor de ato tão desprezível e repugnante.

          No sertão nessa época de seca, as coisas vão ficando escassas, então algumas práticas comuns, é caçar umas rolinhas, umas lambus e os preás, essa era a situação do momento no forró, quem soltou a bufa tinha comido uns preás, isso era muito agravante, o cheiro era forte e característico de quem comeu preá. Os olhares foram se cruzando, cada um queria acusar o outro, mas estava longe de descobrir quem tinha infestado o salão do forró com a bufa sufocante e fedorenta.

        Zé Pinheiro tentou tomar a frente para tentar organizar a confusão, pois o negócio estava pegando fogo. Pedo Peba foi logo dizendo: eu só caço peba, então tó fora disso, Joaquim dos Bodes também já tirou o corpo fora, Cavalo Doido também negou, quando menos se espera, Biliu puxou a peixeira e disse: nem olhem prá mim, também não foi eu, então porque puxou a peixeira cabra, ninguém te acusou e você já apelou, disse Antônio Pinheiro, peixeira por peixeira olha a minha, disse Cavalo Doido, Joaquim dos Bodes não deixou por menos e também puxou a sua, Zé pinheiro ficou muito avexado, logo no seu salão de forró ia acontecer uma desgraceira da peste.

          Vendo aquela confusão toda, João Sanfoneiro interviu e disse: Vocês se avexem logo, se vão se matar, a noite vai acabar, quero continuar a tocar, o forró vai continuar, olha aqui, vocês já sentiram o cheiro num já, então larga dessa briga e vamos forrozar, eu que tenho que aguentar cheiro de bode, cheiro de peba, cheiro de passarinho, cheiro de tudo que é jeito, vou me importar com cheiro de preá, vocês se acostumam com cheiro de queijo, de peixe estragado e ficam querendo arenga por causa de cheiro de preá, as mulheres olharam para João Sanfoneiro e se olharam e para acabar com a arenga, cada uma pegou seu par.

 

Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 13/12/2021
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